Tenho minhas diferenças, sim, com quem não gosta de TEATRO, mas entendo esse “tipo de gente”. (Risos.) Afinal, nem todo mundo é inteligente e tem bom gosto. (Mais risos). (Não estou querendo competir com os atores da peça aqui analisada.) Mas tenho muito mais diferenças, é verdade, com quem não gosta de comédia, por achá-la uma “arte menor”. DETESTO BURRICE!!! Está bem! Vá lá que a pessoa possa preferir um drama, uma comédia, um musical ou qualquer outro gênero teatral que possa existir. Até aí tudo normal. Pode não gostar de assistir a comédias, pode não gostar de rir. Respeito a opção, mas NÃO POR AQUELA “JUSTIFICATIVA” BURRA, TORTA. São dignas de pena as pessoas que, erradamente, acham, que “fazer comédia é coisa fácil”. NÃO!!! NÃO O É!!! Seja para escrevê-las, seja para interpretá-las. Nada mais constrangedor do que um texto que pretendia ser engraçado e não o é. Nada mais constrangedor do que alguém se achar engraçado sem o ser. Em mim, quando me vejo diante de uma situação dessas, dentro de mim, gera-se um ódio, um arrependimento. Saio do Teatro xingando a minha própria sombra e chutando tudo o que encontro pela frente.
À parte os exageros e as brincadeiras (Ou tentativas de.), a verdade é que já disse, e escrevi, trocentas vezes – e quem é do ramo sabe disso -, que fazer rir é muito mais difícil do que fazer chorar. Deixar-se comover, por meio de uma ação de empatia, não é tão difícil, porém levar o indivíduo a achar graça de uma situação bizarra, grotesca, engraçada, enfim, não é para os fracos. Em função disso, tenho que admitir que, se formos olhar pelo lado da estatística, há muitas comédias de péssima qualidade, realmente, o que leva algumas pessoas a nivelar, por baixo, o gênero, entretanto há, sim – GRAÇAS AOS DEUSES DO TEATRO – COMÉDIAS, com todas as maiúsculas, feitas por quem nasceu com o dom de fazer rir. Sim, isso é um dom. O ator pode aprender técnicas de representação, mas ninguém aprende a ser engraçado, porque o ator que sabe fazer COMÉDIA tem umas características especiais, singulares, inerentes a ele, que faltam a outros, embora sejam, alguns, também, excelentes atores dramáticos. Há, porém, muitos atores e atrizes que se saem muito bem nos dramas, mas não funcionam na COMÉDIA, não rendem.
No caso de MARCELO MÉDICI e RICARDO RATHSAM, é na COMÉDIA que eles se destacam, como na peça “TEATRO PARA QUEM NÃO GOSTA”, em cartaz no Teatro dos 4. Salvo engano, é a primeira vez que vejo RICARDO atuar e sei que MARCELO também “joga um bolão” em papéis dramáticos. Os dois parecem ter nascido para divertir o público (E olha que o público de COMÉDIA é muito exigente!!!), ambos com um talento descomunal. A dupla escreveu a peça, interpreta-a e, também faz a direção. Contando com a supervisão de KLEBER MONTANHEIRO, os dois se autodirigem, o que não deve ter sido difícil, para ambos, já que se entendem apenas pelo olhar. Há muita cumplicidade, muita “química”, entre os dois, e, durante 90 minutos de espetáculo, paradoxalmente, a gente tem vontade de pedir que a peça acabe, “PELAMORDEDEUS!!!”, por não aguentar mais, de tanto rir, com dores na articulação dos maxilares e nos músculos faciais. 90 minutos é o tempo que consta no “release”, o qual me foi enviado por RENATA CAMPOS, que faz a produção executiva, uma vez que a “assessoria de imprensa” me ignorou completamente. Mas eu jamais deixaria de assistir à peça e, menos ainda, de escrever sobre ela, o que faço, neste momento, pelo simples fato de que adorei o espetáculo. Falei em 90 minutos, mas pode durar mais (Quase sempre dura.), graças aos improvisos, mais que precisos, os “cacos”, que os dois colocam no texto, aproveitando-se, inclusive, das reações da plateia. Tudo de forma muito inteligente. Reforço que inteligência e raciocínio rápido são fundamentais, para se fazer humor. E, nisso, MARCELO e RICARDO são pós-graduados.
SINOPSE
MARCELO MÉDICI e RICARDO RATHSAM, dois talentosos artistas, escreveram, dirigiram e protagonizam a COMÉDIA “TEATRO PARA QUEM NÃO GOSTA”.
A proposta é contar a HISTÓRIA DO TEATRO, o seu berço e a sua evolução. o TEATRO através do tempo, desde sua origem, na Grécia, pelo que sabemos, até os dias atuais, passando por todas as fases e gêneros, começando pelos clássicos, como não poderia deixar de ser, chegando até os “youtubers”, passando pela Idade Média, pela Renascença, flertando com o Teatro de Revista, o TEATRO de Protesto, os musicais e os “stand-up comedies”, com direito a uma versão particular, da dupla, para o modelo universal de tragédia, “Édipo Rei”, de Sófocles, e o protótipo da tragédia romântica, “Romeu e Julieta”, de Shakespeare.
O público jamais poderia imaginar ver um “Édipo” como o que é encenado pela dupla, fazendo vários papéis, e, menos ainda, um “Romeu e Julieta”, “versão homoafetiva”, transformado em “A Romeu e Julieta”, uma história de amor entre duas meninas.
No fundo, a peça pode ser entendida, e recebida, como uma grande homenagem ao TEATRO, de uma forma geral, e, também, de uma maneira leve e um tanto despretensiosa, como o levantamento de uma questão: O TEATRO morreu?
Por trabalhar mais em São Paulo, creio que, salvo engano, como já disse, só conhecia RICARDO como autor, desde 2004, quando, escreveu, como coautor, ao lado de MARCELO, “Cada Um Com Seus Pobrema”, espetáculo com o qual MARCELO se projetou, nas mídias, interpretando vários tipos, os quais entraram para a galeria dos grandes personagens cômicos do TEATRO BRASILEIRO, todos “politicamente incorretos” (Odeio essa nomenclatura!). Quem não se lembra – só citarei alguns – da vidente Mãe Jatira; do último Mico-Leão-Dourado; do corintiano Sanderson, que vende chiclete na porta do Teatro; e da apresentadora infantil Tia Penha? Foi um espetáculo de estrondoso sucesso, com várias temporadas, em São Paulo, no Rio de Janeiro e em muitas cidades brasileiras, um monólogo, que me levou ao Teatro umas três ou quatro vezes, por meio do qual conheci, de perto, o trabalho de MARCELO, passando, a partir de lá, a ser um de seus mais ardorosos fãs.
Dez anos depois de “Cada Um Com Seus Pobrema”, RICARDO voltou a trabalhar com MARCELO, desta vez, além de coautor, como ator, em “participação hilária”, como dizem, na primeira parte da peça, à qual, até hoje, lamento não ter tido a oportunidade de assistir. Mas não perco a esperança de, um dia, poder assistir a ela, numa remontagem. O espetáculo surgiu por conta dos frutos colhidos com o outro e fez igual sucesso. A fórmula dera certo. Era uma espécie de continuação da outra, tendo, também, como pano de fundo, o TEATRO.
Além do grande interesse que a peça me despertou, logo que recebi convite para a estreia, à qual não pude comparecer, tendo remarcado para outro dia, chamou-me a atenção a grande sacada do título: “TEATRO PARA QUEM NÃO GOSTA”. É claro que há, nele, uma sensacional e inteligente jogada de “marketing”, que, para quem já conhece a dupla, funciona de um jeito: lá vêm esses dois com mais uma COMÉDIA engraçadíssima. Mas, também, surge uma grande curiosidade: Por que fazer TEATRO para quem não gosta? Seria para “converter” os não-iniciados ou os que não apreciam, de verdade, a arte da representação? Estes, se levados ao Teatro dos 4, nem que seja por uma “ação coercitiva”, aceitarão o TEATRO, sem nenhum questionamento, e amarão uma COMÉDIA. RICARDO RATHMAM acha que “…muita gente que não costuma frequentar o TEATRO, vem atraída pelo título”.
Não importa; o que interessa é que eu não via a hora de assistir à peça, na mais absoluta certeza (O duplo pleonasmo está aqui de propósito.) de que iria me divertir muito. E foi o que aconteceu, porque o texto contém um humor de extrema qualidade, inteligentíssimo, sem palavrões gratuitos, com diálogos de uma agilidade tão própria e necessária à COMÉDIA, que emendamos uma gargalhada na outra, ininterruptamente. Só temos um pouco de “descanso” (Eu disse “um pouco”.) quando a dupla se dirige à plateia, como se estivessem fazendo uma palestra ou dando uma aula. Com MUITO HUMOR, é claro!!! Essa conversa com o público é ilustrada com cenas em que os dois interpretam trechos de algumas peças do conhecimento geral do público, até daqueles que “não gostam de TEATRO”, mas já ouviram falar delas.
Não sei dizer o que é mais engraçado, na peça. Tudo é hilário. MUITO HILÁRIO!!! Imaginem, por exemplo, toda uma história, a tragédia vivida por Édipo e os que o cercavam, contada em, talvez, 15 minutos, de uma forma didática, sem que esta seja a intenção primeira dos autores/atores, os quais fazem vários personagens. Pensem naquela profunda dor, contada da forma mais engraçada possível! Pois saibam que MARCELO e RICARDO são capazes disso, e de muito mais, inclusive de rir um do outro.
Agora, pensem na possibilidade de o clássico “Romeu e Julieta” se transformar em “A Romeu e Julieta”, uma “versão homoafetiva” da peça de Shakespeare, criada pela dupla, a pedido do ator que, travestido, já está representando Julieta (RICARDO), para “dar um up” à montagem, “fugir à mesmice” E, dessa forma, ainda que “a contragosto”, MARCELO se transforma em “A” Romeu”, um ator, representando uma lésbica, apaixonada pela adolescente. É algo indescritível!!! De fazer “morrer de rir”!!! Não considerem isso “spoiler”, porque o que não falta é surpresa nesta fantástica COMÉDIA. E uma coisa é ouvir dizer; outra, é ver e ouvir.
No que diz respeito ao desaparecimento do TEATRO, diz MÉDICI: “Brincamos que o TEATRO está acabando, porque a gente vive uma grande crise econômica e é claro que a bilheteria está refletindo esse problema. Já passamos pelas inovações do rádio, cinema, TV, TV em cores, TV a cabo e, agora, outras plataformas, como a internet. O público sempre fica. O TEATRO persiste, continua, é eterno. 3D. E aí a gente conta a história do TEATRO. Na humanidade e no Brasil, de uma forma cômica, claro. São peças, desde a tragédia grega aos dias de hoje. É um panorama.”.
No palco, desfilam 32 personagens, sendo 20 interpretados por MARCELO e 12, por RICARDO. Dentre os que cabem àquele, está A Pequena Sereia. Conseguem imaginar o que possa ser isso? E RICARDO, interpretando Marguerite Gautier, a “mocinha” de “A Dama das Camélias”? Tudo muito bem temperado com os deliciosos ingredientes do besteirol, gênero que adoro.
RODRIGO VELLONI produz a peça e reuniu uma seleção de grandes profissionais de criação, para dar apoio e forma à produção e ajudar a sustentá-la.
KLEBER MONTANHEIRO, responsável pela supervisão de direção, também assina o cenário, simples, porém significativo, no qual se destaca a palavra “TEATRO”, com a penúltima letra virada, quase despencando, e sem a última letra, que está caída, no palco. Estaria em estado terminal? É claro que não!!! Sem nenhum “glamour”, propositalmente, o balcão da cena de “A Romeu e Julieta” é apenas um andaime de metal, para estabelecer a diferença de posições em que se encontram os personagens. Uma poltrona, tipo “chaise”, bem “cafona” e dentro da proposta do espetáculo, é utilizada numa das cenas.
São ótimos os figurinos de FÁBIO NAMATAME, com direito a um vestido super rodado, da personagem de “A Dama das Camélias”, que ocupa boa parte do palco e cujas exageradas dimensões e confecção são genialmente exploradas por RICARDO, o que arranca muitas gargalhadas da plateia, aliás já desde sua entrada, no palco, difícil de ser conseguida, assim como sua saída de cena.
A iluminação fica a cargo de ADRIANO TOSTA e, sem apresentar grandes novidades ou complexidades, serve, na medida, a cada cena.
A peça conta, também, com uma boa trilha sonora original, composta por RICARDO SEVERO.
MARCELO e RICARDO, este autor de 90% do texto, criaram um espetáculo alegre e leve, que brinca, respeitosamente, com o TEATRO clássico e o contemporâneo, não deixando de fazer, explicitamente e/ou nas entrelinhas, algumas críticas, que seriam, no fundo, autocríticas, “misturando estéticas e linguagens teatrais”.
Diz RICARDO: “O TEATRO já teve a importância que a internet tem hoje. Na Grécia antiga, era fonte de informação e novidades. Através do humor, ‘TEATRO PARA QUEM NÃO GOSTA’ põe em pauta a crise do próprio”.
A peça se resume a isto (E não precisa mais nada): “MÉDICI e RATHSAM passeiam, aprofundam e fazem o público rir, num percurso pela história do TEATRO mundial e brasileiro.”.
E, com relação ao questionamento, acerca da “morte do TEATRO”, o qual, vira e mexe, vem sempre à luz, o que seria a felicidade maior, o sonho de consumo, para os atuais (des)governos, federal, estadual e municipal, a não ser que só fossem montadas “peças” (?) com temas bíblicos e/ou evangélicos, esse “mimimi” já é antigo e não tem o menor fundamento nem corre o risco de, um dia, vir a acontecer. Pelo menos, enquanto houver peças, COMÉDIAS, como “TEATRO PARA QUEM NÃO GOSTA”, lotando os Teatros e que recebe a minha máxima recomendação.
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
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CENSURA NUNCA MAIS!!!
Dúvidas, críticas ou sugestões, envie para gilberto.bartholo@rioencena.com.