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‘Um retrocesso’, aponta atriz Luciana Fávero sobre questão social tratada em peça da Cia. Epigenia baseada em conto de Machado de Assis

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Tempo estimado de leitura: 4 minutos
“O alienista', da Cia. Teatro Epigenia, é apresentado por 14 atores em cena Foto: Luciana Salvatore/Divulgação

Está em cartaz na Cidade das Artes o espetáculo “O Alienista”, nova montagem da Cia. Teatro Epigenia, que é livremente inspirada no conto homônimo de Machado de Assis, lançado há exatos 140 anos. Mas por que buscar referência numa obra do século retrasado? Porque mesmo sendo antiga, ela retrata males que afetam a sociedade de hoje. Por exemplo, pessoas que acham que apenas as suas visões de mundo são as corretas, e uma vaidade que resulta em retrocesso. Quem faz tais apontamentos é Luciana Fávero, cofundadora da trupe e integrante do elenco.

Em entrevista ao RIO ENCENA, a atriz lembra que estes aspectos saltaram aos seus olhos quando leu o texto da dupla Celso Taddei e Gustavo Paso – responsável também pela direção – que ecoa a obra de Machado de Assis.

— Absurdos que nos fazem abrir mão de conquistas e lutas de anos em prol da vaidade e poder. Isso é um retrocesso — exclama Luciana, que contracena com nomes como Romulo Estrela, Gláucio Gomes e Vitor Thiré, além de outros 10 atores.

Na entrevista, ela fala ainda sobre outros pontos, inclusive sua personagem, a Dona Evarista. Ela é esposa de Simão Bacamarte (personagem de Romulo), um médico respeitado (mas controverso) que interna pessoas como loucas tendo como parâmetros apenas as suas convicções. E o que é pior: seus critérios variam de acordo com interesses – seja por poder, dinheiro ou reconhecimento – o que faz uma comunidade inteira ir à falência social.

A atriz falou também sobre estar indignada pela guerra na Ucrânia e seu desejo por assistir a mais peça que proponham reflexões sobre o comportamento humano. Confira a entrevista na íntegra abaixo:

O conto que inspirou esse espetáculo foi publicado há 140 anos. O que exatamente faz ele parecer atual?
Falar da loucura que é achar que o seu ponto de vista é o único valido, que é a escolha certa. A falta de empatia e pluralidade. O poder consumindo todo o discernimento e nos afastando do que somos: humanos!

Luciana Fávero é atriz e cofundadora da Epigenia Foto: Arquivo pessoal

Quando você leu o texto pela primeira vez, algo te chamou mais atenção?
No texto, o local onde se passa a história começa a retroceder no tempo por conta de tantos absurdos. Absurdos que nos fazem abrir mão de conquistas e lutas de anos em prol da vaidade e poder. Isso é um retrocesso. E trazer essa sensação tão atual, de que estamos voltando no tempo em muitos aspectos, é um signo muito forte e me diz muito. E na peça, isso é representado não só no texto, mas também nos figurinos, nas referencias de objetos e na comunicação.

E qual foi sua reação ao tomar conhecimento desta questão?
Identificação imediata.

E qual acredita que será a reação mais comum no público?
Tenho certeza que para a grande maioria também será de identificação imediata. O julgamento quanto ao que fazer e as escolhas perante essa consciência são de livre arbítrio de cada um. Nós ali contamos uma historia, e ela é muito atual. Para o nosso país e para o mundo! É inadmissível estarmos vivendo uma guerra nesse momento! Mesmo que seja distante do Brasil! Mas é desta humanidade, faz parte da minha vivência. É muito triste saber que o ser humano, apesar de tudo, da pós-pandemia, ainda seja capaz disso.

O personagem do Rômulo Estrela é um sujeito controverso. E você faz a esposa dele. Qual é a posição dela nessa história?
Dona Evarista tem um gráfico muito interessante. Inicia como uma mulher alienada, como muitos somos ou já fomos em relação a muitos assuntos. E quando estamos alienados nas nossas escolhas, fazemos tudo de forma inconsciente, o que nos faz, muitas vezes, ter escolhas pouco altruístas e verdadeiras. Dr. Bacamarte, o marido, desperta o pior dela. Ela é divertida e autêntica, mas demora a enxergar quem realmente o marido é! E quando acontece, ela se dá conta do quanto quis acreditar no que criou e não na realidade que estava o tempo todo presente.

Por fim, sente falta de mais espetáculos inspirados em textos de grandes escritores brasileiros?
Acho que sinto falta de espetáculos que tragam a reflexão para o que estamos vivendo. Com conteúdo além de só o divertimento. Acho que estamos num momento muito delicado, e precisamos, através do teatro – que eu digo que é uma excelente maneira de nos humanizarmos – de descobrirmos nosso potencial de mudança, de força enquanto população. Usar a arte como revolução. E para isso, precisamos de textos, montagens com essa chamada. Temos alguns espetáculos que nesse momento fazem essa chamada. A escolha de Machado de Assis vem com a força daquele que não aceitou os meios naturais. Apesar de toda a adversidade – social, de saúde, educacional – Machado de Assis derrubou fronteiras. È um exemplo de potência que nós temos! Convido todos vocês para assistirem nosso “O Alienista”, com 14 atores em cena e trilha executada ao vivo. O teatro é bem espaçoso, a Cidade das Artes também é um local lindo de conhecer, bem arejado. Convido também para conhecerem nossa cia. que completa 22 anos de atividades em 2022. Acessem www.epgenia.art e @ctepigenia.

SERVIÇO

Local: Cidade das Artes – Grande Sala | Endereço: Avenida das Américas, Nº 5300 – Barra da Tijuca. | Telefone: (21) 3328-5300 | Sessões: Quinta a Sábado às 20h30; domingo às 18h | Temporada: 10/03 a 10/04 | Elenco: Romulo Estrela, Luciana Fávero, Gláucio Gomes, Vitor Thiré, Samir Murad, Dodi Cardoso, Renato Peres, Tatiana Sobral, Tecca Maria, Anna Hannickel, Eduardo Zayit, Erick Villas, Laura Canabrava e Renato Ribone | Direção: Gustavo Paso | Texto: Gustavo Paso e Celso Taddei | Classificação: 12 anos | Entrada: Plateia e Frisa – R$60 (inteira); R$30 (meia) / Galeria e Camarote – R$50 (inteira); R$25 (meia) | Bilheteria: Sympla | Gênero: drama | Duração: Não informada | Capacidade: Não informada


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