Em 1982, Alice Walker se tornou a primeira escritora negra a ganhar o Pulitizer, um dos mais importantes prêmios da literatura mundial, com “A Cor Púrpura”. Três anos depois, a publicação foi levada para o cinema pelo diretor Steven Spielberg e, com Oprah Winfrey e Whoopi Goldberg no elenco, recebeu 11 indicações ao Oscar. Já nos anos 2000, o drama foi montado duas vezes na Broadway, com adaptação de Marsha Norman, mais uma vez com êxito – em 2016, faturou dois prêmios Tony e o Grammy de Melhor Álbum de Teatro Musical. Após toda essa trajetória de sucesso, a aclamada obra que toca na questão da igualdade de gêneros chega nesta semana ao Brasil prometendo manter o nível, já que a versão nacional é de Artur Xexéo, com direção Tadeu Aguiar, dois respeitados nomes do musical do Brasil.
“A Cor Púrpura” estreia nessa sexta-feira (06), às 20h30, na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca, onde fica até 03 de novembro, com apresentações também sábados às 17h e às 20h30, e domingos, às 17h. Antes da temporada, porém, a produção realizará dois ensaios abertos ao público: nessa quarta (04) e nessa quinta (05), às 20h30. A entrada é franca.
Encabeçado por Letícia Soares, Sérgio Menezes e Lilian Valeska, o elenco de 17 atores – acompanhado de oito músicos – encena uma história de opressão à mulher que ocorre numa zona rural do Sul dos Estados Unidos do início do século XX, mas que possui pontos em comum com o Brasil de hoje.
Celie é entregue pelo suposto pai a um fazendeiro local, para quem deverá trabalhar sem remuneração. Entre conflitos e laços com outros personagens, a protagonista vê sua trajetória ser pontuada por questões sociais que avançam pelo tempo como, por exemplo, desigualdade, abuso de poder, racismo, machismo, sexismo e a violência contra a mulher.
— A história é universal: fala do ser humano, em especial das mulheres. É imediata a identificação com o momento do país, onde há tantas histórias de opressão às mulheres. “A Cor Púrpura” é um grande grito de liberdade — brada Tadeu Aguiar, que tem no currículo outros musicais de destaque como “Bibi, uma Vida em Musical” e “Quase Normal”.
A trama é costurada por momentos de drama e esperança contados através de 32 números musicais – a direção musical é de Tony Lucchesi. Para poder passar as emoções da versão da Broadway, Artur Xexéo procurou ser mais fiel aos efeitos sonoros das canções.
— Às vezes, um verso original termina com uma vogal aberta e, para aproximar a versão de uma tradução literal, você termina com uma vogal fechada. Então, o melhor é se afastar da tradução literal e se aproximar do efeito sonoro. Há, na peça, todo tipo de música negra americana: spirituals, blues, work songs, etc. Muito da ação é transmitida pela música. Então, a versão não pode tomar muitas liberdades. Tem que respeitar a intenção da letra original — explica.
Outra preocupação quanto à montagem norte-americana foi a manutenção dos personagens com suas essências. Tudo para que, como Tadeu Aguiar comentou inicialmente, aquela identificação com o público de hoje, mesmo tratando-se de uma história de época, não fosse perdida.
— Não foi preciso adaptação alguma para o musical interessar à plateia brasileira. Ele, naturalmente, fala a qualquer plateia do mundo de hoje — encerra Xexéo.