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‘A Noite dos Inocentes” produz raro efeito tragicômico em peça sob medida para o apartamento onde se passa

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Tempo estimado de leitura: 2 minutos

“A Noite dos Inocentes”, de Rodrigo Murat, se passa em um apartamento em Copacabana. Elaborada especialmente para ele, a relação entre o enredo, a encenação e o espaço cênico é muito particular, e é o que caracteriza a montagem, em diversos sentidos.

A história gira em torno de Caio, escritor e inquilino do dito imóvel. Do nada, o proprietário aparece para mostrar o apartamento para um possível novo morador. Caio fica completamente desconfortável e irritado com a súbita visita, e a trama paulatinamente se revela: o proprietário é seu ex-namorado Nando, com quem Caio morou, naquele apartamento, durante dois anos. Depois do término, Nando deixou Caio morando ali, mas agora quer o imóvel de volta, provavelmente para dividi-lo com seu novo affair, Rodolfo, que está diante de Caio e do público. O constrangimento é total, e fica mais acentuado com a claustrofobia provocada pela presença da plateia, que aperta ainda mais a sala de estar, forçando os personagens a ficarem mais próximos e com menor mobilidade.

Para completar, Caio é um escritor fracassado, enquanto Nando é professor de natação e Rodolfo, advogado. Nando e Rodolfo estão começando um romance, enquanto Caio não só foi dispensado há pouco tempo, como está sendo despejado de sua casa naquele momento. Nando e Rodolfo são fitness, enquanto Caio luta contra sua própria inércia, pessoal e profissional. Todo o peso da vida está em Caio, tanto por sua própria natureza, sua área de atuação, quanto pelo momento específico pelo qual está passando, enquanto Nando e Rodolfo personificam a leveza. Este equilíbrio de opostos está nos próprios personagens e, ao mesmo tempo, na trama específica que se desenvolve durante a peça.

Os figurinos entram nesse jogo: Caio tem uma indumentária caseira, “largada”, enquanto Nando e Rodolfo ou usam roupas mais “produzidas”, como blazer e camisa de botão aberta, ou estão totalmente à vontade, sem camisa.

Os atores Anderson Guimarães, Fabio Gozzi e Gabriel Garcia são precisos em suas composições, e trabalham a medida de suas atuações em relação ao espaço e à situação em si, que não pede grandes relevos. A delicadeza das circunstâncias se impõe por si só, cabendo aos atores apenas sua condução sutil e controlada, o que fazem com perfeição.

A direção de Nelson Yabeta soube encontrar os elementos fundamentais para o estabelecimento do clima que perpassa a peça inteira, mesmo quando o contexto se inverte ligeiramente, entre a primeira e a segunda metades do espetáculo. Para além da seleção, conseguiu temperá-los com cuidado, de modo que nada passasse do ponto, produzindo um efeito tragicômico raro, só possível através de uma fusão tênue entre texto, direção e atuações. Vida longa!

Um abraço e até domingo que vem!
Dúvidas, críticas ou sugestões, envie para pericles.vanzella@rioencena.com.

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