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E a arte? Não eleva o moral do povo?

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35 anos, bacharel em Artes Cênicas pela UNIRIO, licenciada em Letras pela Estácio de Sá, atriz, escritora, tradutora e ávida leitora nas horas vagas.
Tempo estimado de leitura: 2 minutos

Não apoio o atual governo. Não consigo! Não tem uma frase que escuto do excelentíssimo presidente que me acalma, que me dá conforto. Segundo nosso excelentíssimo presidente, eu, uma mulher, tenho menos valor na sociedade do que ele, um homem. Segundo nosso excelentíssimo presidente, metade da população vale mais do que a outra metade. Pior ainda é pensar que ele foi eleito por pessoas que se dizem tão de bem quanto ele se diz. Não consigo entender isso. Dentro da minha pequena cabeça, que, socialmente, tem menos valor do que a ele, não entra esse conceito.

Não aceito o uso do nome de deus algum, tal dito benevolente, vindo de um governo a favor do extermínio, contra a propagação da cultura e o desenvolvimento de formadores de ideias. Não tem lógica! São mais de 482 mil mortes por um vírus facilmente espalhado, especialmente, em meio a aglomerações, e os governantes de nosso país acham que a melhor coisa a fazer é sediar a Copa América.

Todo o dinheiro que será gasto em um evento desse porte não seria melhor empregado adquirindo vacinas para imunizar a população? Será que não seria fazer um bom uso dessa verba se pudéssemos direcioná-la para melhorar a situação precária de saúde nacional em que nos encontramos? Mais uma vez, não entendo. Só pode ser minha falta de capacidade feminina falando.

Tenho variado entre o desespero e o pavor desde março de 2020. Agora grávida, volto a ter dificuldades para dormir e fico pensando que país é esse em que resolvi trazer minha criança. Uma criança que será privilegiada. Será privilegiada por ter pais que reconhecem a importância de livros em casa, que acreditam no poder da arte, que vão procurar lhe dar ferramentas para que ela tenha um pensamento crítico.

Privilegiada porque essa criança, pelo menos dentro de casa, será aceita do que jeito que ela for, e isso é mais do que eu posso esperar de qualquer pessoa da porta para fora. Estamos aqui, lutando e respeitando os limites de lotação de um teatro. As casas que abrem estão com um alto protocolo de distanciamento e limite de quantas pessoas podem estar presentes nas apresentações que estão sendo realizadas.

E a arte? Não eleva o moral do povo? Ou será que a arte só ameaça quem está no poder? Arte: Luiz Maurício Monteiro

Toda a classe artística está se reinventando diariamente para tentar se preservar e respeitar o próximo. Creio que isso tudo é apenas porque arte não dá dinheiro nesse país. Infelizmente!

Cultos religiosos e eventos esportivos sempre entram em primeira instância e são lembrados por “elevar o moral do povo”. E a arte? Não eleva o moral do povo? Ou será que a arte só ameaça quem está no poder? Quantas balas perdidas vão continuar encontrando corpos inocentes nesse país? Corpos de mães grávidas, de crianças uniformizadas… Quantas famílias serão desfalcadas por incompetência governamental? Quantas perguntas vão continuar com respostas evasivas na CPI da Covid? Quantos eventos que estimulam aglomerações vão continuar acontecendo em meio a números tão elevados de mortes por conta de um vírus?

Eu não tenho respostas, eu tenho desespero. Por favor, me perdoem o tom de desabafo na coluna de hoje. Só que é impossível falar apenas de coisas agradáveis nos tempos em que estamos. O luto bate sem avisar e não tem um tempo certo para ir embora. E, por favor, não deixem de usar máscara, lavem bem as mãos e se cuidem.

Um aceno de mão efusivo e até a próxima semana.
Dúvidas, críticas ou sugestões, envie para luciana.kezen@rioencena.com.

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