Em cartaz no Midrash Centro Cultural, no Leblon, com sessões às quintas-feiras, às 20h30, até 31 de março, “O Delírio do Verbo” é aquele tipo de espetáculo feito para um público eclético mesmo que à primeira vista não pareça. Composto por obras do poeta mato-grossense Manoel de Barros (1916-2014), o monólogo protagonizado por Jonas Bloch apresenta poemas em sequência, o que talvez possa parecer pouco interessante a alguns, mas ao mesmo tempo tem uma linguagem simples, popular e bem humorada que toca em temas pertinentes a todos como reflexões sobre a vida, memórias da infância e novos horizontes. E a prova de que a peça pode, de fato, enganar a princípio, é que nem mesmo o ator esperava tantas reações positivas nas primeiras temporadas.
– Foi uma surpresa. Eu pensava que não seria bem aceito por uma plateia popular – recorda Jonas em entrevista ao RIO ENCENA.
Além de atuar, Jonas Bloch, que comemora 50 anos de carreira com 38 peças no currículo, também dirige a montagem. Para levar à plateia a maior fidelidade possível à obra de Manoel de Barros, ele procurou empregar um estilo mais simples de direção. No palco, Jonas se apresenta apenas como um fim condutor entre o poeta e a plateia.
– Procurei a simplicidade. Deixei que suas palavras fossem a grande estrela do espetáculo – destaca.
Em cena, Jonas, que, claro, é fã de poesia, desfia um repertório variado das obras de Manoel de Barros. Com uma boa pitada de ironia e humor, os textos vão do popular ao surreal, passando pela nostalgia. Com ambientação cenográfica inspirada na arte do artista plástico brasileiro Arthur Bispo do Rosário (1909-1989), o espetáculo busca levar o público a um mundo que vê beleza nas “insignificâncias”, cuja porta de entrada pode ser a entrevista abaixo:
Qual é o impacto, a reflexão que você espera que esse espetáculo cause nos espectadores?
Já apresentei “O Delírio do Verbo” em algumas cidades. Ao fim do espetáculo, eu pedia à plateia que comentasse na nossa página no Facebook o que sentiram. As respostas eram emocionadas, com elogios acima do que eu esperava: “Sensível, delicado, simples”; “Espetáculo magnífico”; “Pérola fina, de indescritível beleza poética!”.
E pelo perfil da peça, é para um público segmentado ou pode ser bem aceito por todo tipo de espectador?
Essa foi outra surpresa. Eu pensava que não seria bem aceito por uma plateia popular. Mas já apresentei em praça pública, abrindo a Feira Literária de Bonito (MS), e foi maravilhoso!
Você sempre foi fã de Manoel de Barros? Fale um pouco sobre como começou essa admiração?
Eu sempre gostei de poesia. Acho que alguns poetas nos conduzem, com poucas palavras, a mudar nossa visão do mundo. Um bom poema pode nos revelar sensações que ainda não tínhamos vivido. E Manoel de Barros é um mestre nisso.
Que estilo de direção você emprega na montagem?
Assim como Manoel de Barros, procurei a simplicidade, deixei que suas palavras fossem a grande estrela do espetáculo. O cenário, inspirado na obra de Artur Bispo do Rosário, nos envolve no universo do texto.
Por fim, tem alguma cena que seja a sua preferida ou que seja a mais difícil de fazer?
Gosto muito de tudo no espetáculo, mas me encanta o humor e a ironia de algumas narrativas. O fato de não ter rima ou métrica, também me agrada. São histórias contadas e encantadas de poesia.