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‘Em nome da mãe’ acerta na desconstrução e desmistificação da mãe de Jesus

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34 anos, doutora em Literaturas Africanas, pós-doutora em Filosofia Africana, pesquisadora, professora, multiartista, crítica teatral e literária, mãe e youtuber.
Tempo estimado de leitura: 2 minutos

O espetáculo “Em nome da mãe” é um mergulho na figura de Maria, mãe de Jesus, na sua dimensão mais humana. Mulher, pobre, virgem e grávida numa sociedade patriarcal, Miriam – o nome hebraico de Maria – narra em primeira pessoa a sua história, desvelando seus sonhos, medos, incertezas, constrangimentos, violências, amor e, sobretudo, esperança no filho que virá. Baseada na obra homônima do premiado autor italiano Erri de Luca, a peça foi concebida e adaptada para o palco por Suzana Nascimento em sua primeira montagem no Brasil.

A minha imagem de Maria é bíblica e construída pela indústria cultural, então a experiência na peça foi de desconstrução e desmistificação dessa senhora, que sempre esteve em silêncio na tradição judaico-cristã. A atuação de Suzana Nascimento no monólogo é verdadeira e emocionante, principalmente pelo rompimento com o aspecto religioso, mostrando uma mulher comum, muito parecida conosco. Nesse sentido, a costura dramatúrgica com vozes da própria atriz e suas questões contemporâneas aponta para diversas camadas conservadoras da nossa sociedade. Não tem como não refletir sobre o patriarcalismo de nosso sistema penal, por exemplo.

Suzana Nascimento protagoniza e assina o texto do espetáculo Foto: Elisa Mendes/Divulgação

A obra explora diversas nuances de Maria, antes de ser a mãe de Jesus, que se misturam com a sabedoria e ancestralidade da anciã, terceira mulher do monólogo. Mulheres da humanidade são reverenciadas. A gravidez e a maternidade são pontos de conexão. E eu quero destacar a bela e poética cena do parto de Ieshu (Jesus), um trabalho harmônico de luz, câmera e edição que agregaram ao todo. Miwa Yanagizawa fez uma direção sensível, híbrida no teatro-cinema, que nos conecta à matriarca, retirando-a do seu pedestal sagrado para se igualar a todas as mulheres sobre o patriarcado. 

Saí angustiada da obra. Pelo meu lugar no mundo e pela própria desgraça desta humanidade. É urgente pensar na condição das mulheres em 2021. O cenário de fome, os 15 anos da Lei Maria da Penha e a precariedade de viver num Brasil pandêmico e desgovernado. Mas também saí atravessada pela esperança. Não em Jesus, propriamente dito, mas no símbolo de renovação que o nascimento traz.

Dúvidas, críticas e sugestões, envie para aza.njeri@rioencena.com.

SERVIÇO

Local: YouTube – Canal SESC RJ | Sessões: Sexta a domingo às 19h | Temporada: 06/08 a 29/08 | Elenco: Suzana Nascimento | Direção: Miwa Yanagizawa | Texto: Suzana Nascimento (a partir do livro Em nome da Mãe, de Erri de Luca) | Classificação: 14 anos | Entrada: Grátis | Gênero: Drama solo | Duração: 60 minutos


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