Não me lembro exatamente do ano em que tomei conhecimento do cineasta dinamarquês Lars von Trier, só lembro que gostei. Eu era adolescente, “Dançando no Escuro” (2000) foi um filme que achei lindo, tocante, triste, me marcou bastante. Daí comecei a procurar mais filmes do cara.
Quando assisti ao filme “Dogville” (2003) pela primeira vez, não consegui tirar da cabeça a ideia que esse filme daria uma excelente peça. Eu adorei tudo. Como achei perturbadora a estória contada, nossa! Amei a tal simplicidade do cenário. Nunca antes havia assistido a um filme naquele estilo na vida, nem acho que assisti depois de tantos anos. Até hoje não senti a mesma coisa por nenhum outro trabalho que assisti na tela, fato! “Dogville”, como outros filmes de Lars von Trier, permanecerá em mim para sempre.
Logo, assim que fiquei sabendo da montagem cênica que iria acontecer do filme, não perdi a oportunidade de assistir. E digo mais, assisti duas vezes. E me encantei as duas vezes. Que adaptação! Achei que ficou tudo muito bem adaptado para o palco, muito bem atuado pelos 16 atores em cena. A coordenação no palco que pude assistir daquelas 16 pessoas me encantou.
Fui assistir uma segunda vez, principalmente, por achar que havia tantos detalhes em cena, e que eu não queria perder nada do que estava sendo apresentado. A direção de Zé Henrique de Paula trouxe para o teatro todo o incômodo e a admiração que a Luciana adolescente havia sentido anos antes. Como não aplaudir de pé?
A iluminação muito bem usada, a paleta de cores do figurino excelente, o cenário e adereços magníficos, as projeções pontuais, tudo! Sonoplastia e trilha sonora fantásticas. Sei que falo de um ponto de vista de quem já era fã, mas não vou me esconder, sou fã sim. E o que merece crédito, tem que receber crédito.
Na montagem que assisti, tive também a oportunidade de baixar a cabeça para um dos grandes talentos de atuação brasileira. Todos conhecemos o talento de Fábio Assunção na televisão e no cinema, no palco vemos porque o Brasil o ama tanto. Ele sabe o que faz.
Ainda na mesma montagem, Bianca Byington deu seu show particular, ela estava muito bem em cena. Não vi uma peça ainda com a Bianca em que ela não tenha se destacado a meus olhos. Mel Lisboa arrasou no papel principal. Sua angústia chegava a mim, como se ela estivesse do meu lado contando o que se passava com ela. Todo elenco foi muito bem escalado. Nossa, não consegui achar um momento da peça que não tenha gostado. Sei que muitas pessoas acham esse tipo de trabalho longo ou até com um desenrolar devagar, não é o meu caso. Achei o filme uma obra de arte e achei a peça um lindo trabalho artísticos de igual valor. Para mim, não há nada de enfadonho em uma narrativa bem construída, bem atuada e muito bem dirigida.
Fico muito feliz em saber que esse espetáculo – mesmo com o elenco um pouco diferente das apresentações que assisti na Gávea dois anos atrás – vai ser exibido gratuitamente no canal da peça em duas apresentações. Indico e aplaudo mais uma vez. Parabéns para toda a equipe envolvida!
E vou logo avisando, sei que vou assistir de novo. Duvido que o trabalho se mostre com menos qualidade do que me foi apresentado anteriormente.
Um aceno de mão efusivo e até a próxima semana.
Dúvidas, críticas ou sugestões, envie para luciana.kezen@rioencena.com.