Busca
Menu
Busca
No data was found

Bruno França: ‘É preciso resistir com alegria, como nos ensina Zé Pelintra’

Share on facebook
Share on twitter
Share on whatsapp
Tempo estimado de leitura: 2 minutos

Para mim, é uma alegria infinita falar sobre Seu Zé Pelintra e o palhaço Felizardo. A palhaçaria e a umbanda são dois pilares muito importantes da minha vida. A umbanda veio pela família e a palhaçaria, pelo teatro de rua em Nilópolis. Uma coisa que me marcou muito na infância foi a imagem de Cosme e Damião na casa da minha avó com os docinhos e tudo mais. E aí na adolescência, a filosofia do terreiro veio para me botar no caminho do bem e do autoconhecimento, porque eu me sentia perdido na vida.

É uma felicidade levar o Seu Zé Pilintra e o palhaço Felizardo para a família brasileira no meu solo “Povo de Rua” (em circulação gratuita pelo Rio; para saber mais clique aqui) nesse momento em que a gente vive. Nesse momento em que se tem uma escola de samba como a Grande Rio vencendo o carnaval carioca falando de EXU. Mostrando que a umbanda, o Seu Zé Pelintra e as religiosidades de matrizes africanas e afro-ameríndias representam o Brasil mais do que o futebol e o samba. É uma honra poder contar, através do meu palhaço Felizardo, esse cruzamento com Seu Zé Pelintra.

O processo começou em 2018, quando me iniciei como bolsista de pesquisa no Núcleo de estudos das performances afro-ameríndias (NEPAA), coordenado pelo professor e diretor Zeca Ligiéro. Era uma época em que eu ainda estava me sentindo muito revoltado com as minhas práticas dentro da palhaçaria, não estava me identificando mais com os padrões euro-cristãos, com gags tidas como clássicas ou tocar certos instrumentos musicais que não condizem muito com os padrões brasileiros, figurinos e pedagogias de ensino da arte da palhaçaria.

Nesse mesmo período, eu atuava como ator-pesquisador no laboratório “Palhaços Sagrados”, e a minha amiga Thallita Flor surgiu com a seguinte provocação: “Zeca, você conhece algum palhaço africano?”. E o Zeca traz mestres da cultura popular para estudarmos, tais como: Cazumbas, do Bumba-meu-boi; Palhaços da Folia de Reis; Hotxuás; Cavalo Marinho; e Seu Zé Pelintra. Foi ali meu primeiro contato de maneira performativa com a entidade.

Bruno França é ator e palhaço Foto: Okoto Produções/Divulgação

Cada vez mais, sinto que essa fusão da arte e da religião faz parte da minha vida, porque no meu corpo já está gravado toda luta que é sobreviver de arte na Baixada Fluminense. Esse encontro age como um feitiço desfazendo as amarras do ódio, da culpa e da raiva. Me mostra que é preciso ter resistência. Mas, acima de tudo, resistir com alegria, não só ficar preso a uma filosofia do eterno perdedor e do vagabundo. O samba, a capoeira, o futebol e as festas tradicionais são regados a muita dança, música e sorrisos.

Isso para mim, representa o povo brasileiro mais do que tudo. A fé do povo brasileiro e a capacidade que ele tem de agregar e transformar para o bem as coisas ruins que acontecem. Tem uma frase do babá Rodney William que diz: “Exú é resistir com alegria” – e o Seu Zé Pelintra ensina a gente a filosofia da malandragem no sentido mais sagrado que possa existir.

*Bruno França é ator, palhaço e colunista convidado do RIO ENCENA


CENTRO CULTURAL JUSTIÇA FEDERAL: Teatro do CCJF reabre após dois anos e meio fechado

Leia Também

No data was found
Assine nossa newsletter e receba todo o nosso conteúdo em seu e-mail.