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‘Cascavel’ mete a colher com narrativa densa e sombria sobre agressão contra mulheres

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34 anos, doutora em Literaturas Africanas, pós-doutora em Filosofia Africana, pesquisadora, professora, multiartista, crítica teatral e literária, mãe e youtuber.
Tempo estimado de leitura: 2 minutos

“Cascavel” é uma incômoda obra sobre a complexidade da violência doméstica. A partir de uma narrativa densa e sombria, acompanhamos a construção do relacionamento abusivo de duas mulheres – Susy e Jen –  com o mesmo agressor. Importante começar nossa conversa avisando que a peça pode trazer gatilhos. Dito isso, o excelente texto da inglesa Catrina McHugh lança luz sobre um sério problema de ordem mundial que se agravou com a pandemia de Covid-19. Segundo pesquisa do Datafolha, por exemplo, no último ano (2020), uma em cada quatro mulheres com mais de 16 anos sofreram violência doméstica, isso equivale a cerca de 24% ou 17 milhões de brasileiras.

As atrizes Carol Cezar e Fernanda Heras estão ótimas e verdadeiras em atuações tanto nas peles das mulheres devastadas, mas, principalmente, nas representações de James, o agressor. Um homem inteligente, carismático e sedutor que vai aprisionando as personagens numa rede de culpa, chantagem e muita violência psicológica. Por meio da arteducação, a peça traça um panorama destes tipos de violências, que segundo a Lei Maria da Penha, seriam física, psicológica, moral, sexual e patrimonial.

Fernanda Heras (esq) e Carol Cezar em cena de ‘Cascavel' Foto: Enrique Espinosa/Divulgação

Me senti dolorida com as microviolências comuns a muitas mulheres. Como mãe, fiquei muito sentida com os pesados relatos que envolviam o terror contra as mulheres e suas crianças. A obra consegue abordar os impactos das violências não apenas nas vítimas diretas, mas em todo o núcleo familiar e pessoas próximas. Impossível não se lembrar do recente caso do DJ que agredia sua esposa diante da passividade de familiares e “amigos” que testemunharam as cenas.

As paletas de vermelho e cinza trouxeram uma esfera de solidão, depressão e ansiedade. Por meio de uma iluminação sombria (Adriana Ortiz), o cenário minimalista (Nello Marrese) e figurinos sóbrios (Kleber Montanheiro), as cenas se tornam ainda mais impactantes. E a escolha acertada do diretor pelo teatro filmado arremata a experiência de uma boa obra teatral. 

Saí ainda mais alerta. Não somente a mim, mas às pessoas ao meu redor que podem estar numa situação de agressão dentro de suas casas.  O Brasil é um país violento desde a sua fundação e normalizamos essa situação com o imaginário de que “em briga de marido e mulher, não se mete a colher”.

Dúvidas, críticas ou sugestões, envie para aza.njeri@rioecena.com.

SERVIÇO

Local: YouTube | Sessões: Quinta a domingo, a qualquer horário | Temporada: Até 22/08 | Elenco: Carol Cezar e Fernanda Heras | Direção: Sérgio Ferrara | Texto: Catrina McHugh (com tradução de Diego Teza) | Classificação: 14 anos | Entrada: Gratuito, com possibilidade de contribuição solidária a partir de R$ 10 | Bilheteria: Sympla | Gênero: drama | Duração: 50 minutos


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