O nome do projeto dá uma deixa do que se trata: Teatro Já! No caso, teatro em julho, quando terá início o programa do Teatro PetraGold que une a tradição de uma encenação num palco de teatro com a inovação da tecnologia, que permite que um acontecimento seja filmado e exibido para o mundo inteiro. No próximo dia 04, peças curtas – de até 50 minutos – serão apresentadas no antigo Teatro Leblon para uma plateia simbólica de uma pessoa, mas com ingressos vendidos online – a preços populares – para que espectadores de casa, em diferentes lugares, possam assistir. A medida não apenas movimenta a cena teatral carioca em meio ao isolamento social por conta do novo coronavírus – decretado há exatos três meses – como também tem um caráter solidário. E ainda outro ponto positivo: com todos os devidos cuidados contra a pandemia.
Em conversa com o RIO ENCENA, o ator André Junqueira, curador do PetraGold e idealizador do Teatro Já ao lado da atriz Ana Beatriz Nogueira, falou um pouco mais sobre o projeto – que já tem programação toda confirmada para julho com solos de artistas renomados como Paulo Betti, Thelmo Fernandes, Marcelo Serrado e a própria Ana Beatriz, além de apresentações musicais e também para agosto, com produções inéditas.
Por medidas de segurança contra a Covid-19 – entre elas, distanciamento e higienização constante das dependências do teatro – apenas dois profissionais de cada espetáculo vão trabalhar simultaneamente, mas sem ter contato: o artista vai entrar por uma porta e seguir direto para o camarim, enquanto o técnico de luz vai utilizar outra entrada e partir direto para a cabine. Já o cenógrafo vai antes para montar o cenário, retirar-se e voltar depois para a desmontagem. Quanto ao espectador solitário, ainda não está definido se será um convidado, um homenageado ou um sorteado.
Mas o que está certo é que esta pessoa estará sozinha na plateia – para manter a magia da relação artista x público – porém, com a companhia virtual de dezenas, centenas de pessoas, cada uma de suas casas. Assim como numa apresentação teatral tradicional, o espectador vai escolher a sua data de preferência e comprar a entrada a R$ 10 na plataforma de venda de ingressos Sympla. Para assistir, ele vai utilizar outra ferramenta digital, a Zoom, que permite que eventos ao vivo possam ser assistidos por até 1 mil pessoas – número que pode aumentar de acordo com a dinâmica e aceitação do público.
Do total arrecadado com a bilheteria virtual, 30% serão destinados ao Ingresso Solidário – outro projeto do Petra Gold que vai ajudar famílias de profissionais do setor sem renda durante a pandemia – 50% para a produção dos espetáculos e 20% para o teatro.
Na entrevista abaixo, André comenta também da adesão ao projeto por parte dos artistas, da expectativa pela aceitação do público e da possibilidade de o programa ter continuidade, mesmo depois que a pandemia passar, ditando um “novo normal” para o teatro, com uma plateia real e outra online. Por quê não?
Devido à pandemia, foi muito difícil convencer artistas, técnicos e outros profissionais a participarem deste projeto, a se reunirem num teatro?
Nem um pouco difícil! Tivemos uma adesão bacana, com muitos profissionais não pensando nem em retorno financeiro, mas, sim, em ajudar o próximo. Os atores abriram mão do cachê… E todo mundo querendo criar, não é? E sobre preocupação com possíveis contatos, conversamos antes que é possível fazer o projeto sem expor ninguém, com tudo muito bem planejado. É um treinamento novo para todos: os artistas chegam e vão direto para o camarim; os técnicos entram por outra entrada e vão direto para a cabine também; o cenógrafo já vai ter montado o palco antes, vai sair durante a apresentação e volta só depois para desmontar. Tudo pensando para que ninguém se encontre, com cuidado para não infringir as orientações e proteger a todos. E nas dependências do teatro, vai haver limpeza antes e logo depois das sessões.
E vocês chegaram a entrar em contato com a prefeitura ou outro órgão público para falar sobre o projeto?
Nós procuramos a subprefeitura, no Leblon, mas nada nos foi sinalizado. Procuramos os principais órgãos, perguntamos se tinha problema, falamos da nossa preocupação com distanciamento, mas nada foi dito. Mas como estamos com embasamento nos dados e orientações dadas, como distanciamento maior que dois metros, com apenas uma pessoa na plateia, higienização, não vejo porque isto poderia causar problemas. E é legal falar sobre esta questão para que a população fique sabendo que não estamos expondo ninguém. Estamos tomando todos os cuidados.
Sobre o caráter solidário do Teatro Já, ele se soma a outro projeto do Petra Gold, o Ingresso Solidário, que pretendia auxiliar 200 famílias de profissionais de teatro sem renda atualmente com cerca de R$ 500 por mês. Somando agora o Teatro Já, esta meta pode ficar mais ambiciosa?
A ideia com o Ingresso Solidário era beneficiar até 200 famílias por dois meses. Então, a pessoa comprava ingressos a R$ 40 para futuras temporadas no teatro. Teria que ser muito ingresso vendido. Então, o Teatro Já veio no intuito de potencializar esse fundo do Ingresso Solidário. Se for possível, talvez a gente consiga ajudar mais de 200 famílias. Então, o objetivo com este projeto é agregar.
Outro benefício que vocês mencionam é a geração de empregos. Como seria?
Não é habitual uma apresentação de teatro às 17h. Então, esse é um projeto que não alcança só o local onde acontece a peça, mas vai além. Então, se tivermos uma continuação depois da pandemia, este pode ser mais um horário de trabalho para os técnicos de teatro. É mais uma possibilidade de trabalho, porque poderá chegar uma equipe de técnicos na parte da tarde e uma outra equipe, para a noite.
E qual é a probabilidade de o projeto continuar depois que a pandemia passar?
Tudo vai depender da aceitação do público. Mas já temos pessoas de Chapecó (SC), do Acre, alguns dizendo que nunca foram ao teatro, que nunca assistiram a um espetáculo… Este é um ponto positivo, mas precisamos ver ainda como vai ser. Mas é possível ter 300 pessoas na sala de teatro e outras 10 mil em vários lugares do mundo. Tem gente de Portugal, da Nova Zelândia comprando… Não sei, este pode ser um desdobramento do projeto… A crise faz a gente pensar em ideias para agora, mas que podem ser desdobradas lá na frente.
Então vocês estão otimistas?
Estamos esperando uma grande adesão porque é um projeto inovador, por ser feito desta forma, com um grande número de peças. Mas é uma linguagem que ainda não sabemos como vai ser recebida pelas pessoas em casa. Sabemos como o teatro é feito no teatro. Na casa de cada um, não sabemos. Até agora, a procura tem sido maior do que esperávamos, os eventos na Sympla estão quase lotados, e esperamos que lotem mesmo (risos).
E sobre esta nova linguagem, esperam ser responsáveis por um novo marco no teatro brasileiro, deixando, talvez, um legado para o pós-pandemia?
Queríamos sair da inércia, da impossibilidade causada pelo vírus. Descobrimos como fazer isto, mas, agora, se vamos gerar uma nova maneira de fazer teatro, não sei. É algo muito embrionário ainda. O que sabemos é que queremos fazer o melhor possível. E não sabemos como será lá na frente. Talvez seja uma porta se abrindo… Não sei! Prefiro a surpresa!
Mas acredita, pelo menos, que neste momento de paralisação da cultura, outros teatros no Rio possam adotar este mesmo modelo de projeto?
Acho que sim! Esta é uma forma até do próprio teatro expandir mais seus horários para o público. Isto pode não criar um novo público de teatro, mas pode abrir portas, com mais fluxo de caixa, dabdo espaço para mais produções, alcançando mais pessoas. A gente se costumou a achar que pessoas não vão ao teatro num horário mais cedo por trabalharem até mais tarde. Mas tem gente que sai do trabalho mais cedo também. Então, não sei se o projeto pode inspirar um novo horário no teatro. Mas o que pode acontecer, caso o projeto siga, é que num horário mais cedo, pode haver um público reduzido na sala, porém, mais de 200 pessoas assistindo de Portugal, por exemplo, onde o fuso horário é quatro horas à frente.
PROGRAMAÇÃO TEATRO JÁ
JULHO
“Os Vilões de Shakespeare”
Ator: Marcelo Serrado
Direção: Sergio Modena
Texto: Steven Berkoff
Temporada: 04 a 26 de julho
Data: sábados e domingos
Horário: 17h
“Um Dia a Menos”
Atriz: Ana Beatriz Nogueira
Direção: Leonardo Netto
Autor: Clarice Lispector – Adaptação do conto Homônimo
Temporada: 07 a 28 de julho
Data: terças-feiras
Horário: 17h
“Eu vou”
Elenco: Ana Beatriz Nogueira
Direção: Victor Garcia Peralta
Texto: Zélia Duncan
Temporada: 08 a 29 de Julho
Data: quartas-feiras
Horário: 17h
“Autobiografia Autorizada”
Elenco: Paulo Betti
Direção: Paulo Betti e Rafael Ponzi
Autor: Paulo Betti
Temporada: 09 a 30 de julho
Data: quintas-feiras
Horário: 17h
“Também Queria te Dizer”
Elenco: Emilio Orciollo Netto
Direção: Victor Garcia Peralta
Texto: Martha Medeiros
Temporada: 10 a 31 de Julho
Data: sextas-feiras
Horário: 17h
JULHO | “SEGUNDA MUSICAL TEATRO PETRAGOLD”
“Dolores, Carmem, Isaura, Presentes”
Músico: Luis Felipe de Lima convida Soraya Ravenle
Data: segunda-feira
Dia: 06 de Julho
Horário: 17h
“Meu Laiaraiá – O Samba de Martinho da Vila”
Músico: Luis Felipe de Lima convida Verônica Sabino
Data: segunda-feira
Dia: 13 de Julho
Horário: 17h
Status: Confirmado
“Breque Moderno“
Músico: Luis Felipe De Lima convida Soraya Ravenle e Marcos Sacramento
Data: segunda-feira
Dia: 20 de Julho
Horário: 17h
“Lupcínio”
Músico: Luis Felipe De Lima convida Inez Viana e Ana Beatriz Nogueira
Sinopse: A vida e obra de Lupicínio
Data: segunda-feira
Dia: 27 de Julho
Horário: 17h
AGOSTO
“Lenilson – Sob o Peso dos Meus Amores”
Ator: Arlindo Lopes
Direção: Marina Vianna
Temporada: 04 a 26 de agosto
Data: terças e quartas-feiras
Horário: 17h
“Na Medida do Impossível”
Atriz: Lu Fregolente
Direção: Victor Garcia Peralta
Texto: Lu Fregolente
Temporada: 06 a 28 de agosto
Data: quintas e sextas-feiras
Horário: 17h
“Romeu & Julieta (e Rosalina)”
Atriz: Júlia Rabello
Direção: Fernando Philbert
Texto: Gustavo Pinheiro
Temporada: 08 a 30 de agosto
Data: sábados e domingos
Horário: 17h