Olá, sejam bem-vindos à minha coluna semanal sobre teatro. O terceiro sinal já tocou, e sinto que devo me apresentar: sou Aza Njeri, tenho 34 anos, sou professora-doutora em Literaturas Africanas e Pós-doutora em Filosofias Africanas; atuo como crítica literária e dou pinta como youtuber de vez em quando. E é com alegria que hoje estou começando uma jornada de crítica teatral no RIO ENCENA, cujo convite aceitei, principalmente, porque acredito que a arte em geral e o teatro, em específico, é uma das nossas ferramentas mais potentes para a mudança do status quo, já que ele mexe, desloca, incomoda e impulsiona as consciências.
A minha relação com o teatro data da minha pré-adolescência nos anos 1990, quando minha irmã mais velha assinou uma revista que dava ingressos e descontos para peças em cartaz. Esse foi o meu primeiro mergulho real com o mundo das artes cênicas. Embora, anteriormente, já tenha visto peças infantis com minha mãe, foi nesse contato com os espetáculos adultos que me senti instigada a escrever as minhas próprias peças para serem encenadas por mim e por meus amigos nos encontros de sábado à tarde na vila em que eu morava. Nessa brincadeira, fiz meus primeiros ensaios de dramaturgia escrevendo a peça adolescente “Círculo vicioso” encenada no teatro da minha escola; também fiz uma releitura cênica do livro “A moreninha” de Joaquim Manuel de Macedo e do conto “Pai contra mãe” de Machado de Assis que apresentamos como trabalhos finais da aula de literatura no primeiro ano do Ensino Médio. E no mesmo ano montei com meus colegas um teatro de máscaras para a feira de ciências, em que, sem falas, performávamos as amarguras da vida ao som de variadas músicas da MPB.
Mais tarde, com 17 anos, pensei em prestar vestibular para a UNIRIO para artes cênicas, entretanto, por estar grávida não tinha condições de fazer o exame prático exigido, então, deixei de lado o sonho do teatro e fui fazer graduação em Letras na UFRJ. Lá, me dediquei à pesquisa sobre as Literaturas Africanas e me deparei com os textos dramatúrgicos escritos em África, dentre eles a obra “O leão e a joia” do Nobel Wole Soyinka que trouxe de volta a vontade de retomar o estudo do teatro. Mas, ainda não era o tempo do meu retorno, e as cortinas continuavam cerradas para mim. Então, fiz mestrado e doutorado em Literaturas Africanas e, logo em seguida, sentindo a necessidade de fomentar as minhas reflexões filosóficas, fui fazer pós-doutorado em Filosofias Africanas, até que, finalmente, terminado o percurso acadêmico, o teatro voltou a me chamar e eu, com braços abertos, aceitei o chamado e me joguei, agora não mais como uma jovem que queria ser dramaturga, mas sim, como uma pensadora da crítica teatral.
Esse chamado veio através do convite para integrar como Interface Crítica o premiado Segunda Black, projeto que une pensamento crítico e performances de fazedores de artes negros e está na sua quarta edição. Isto é, ao fim das apresentações, eu subo ao palco para costurar criticamente o encenado dando a eles um viés filosófico importante para o debate das cenas. A partir desse retorno, passei a escrever críticas dos espetáculos em cartaz no Rio publicadas em diferentes sites e plataformas, além de atuar na construção filosófica de espetáculos como “Yabá Mulheres Negras”, produzido por Rodrigo França e dirigido por Luiza Loroza, cuja temporada foi interrompida pela pandemia vigente.
Nessas idas e vindas, aqui estou para partilhar com vocês meus olhares sobre os espetáculos em temporada na cidade, de forma a auxiliar na ampliação do seu conhecimento sobre as peças e na formação de plateia.
Prometo que nossos encontros serão repletos de fôlego artístico e olhar agudo sobre as obras, visando o laço fruitivo que a arte estabelece com quem entra em contato com ela.
Que comece a temporada!
Dúvidas, críticas ou sugestões, envie para aza.njeri@rioencena.com.