Já que hoje é Dia das Mães, eu gostaria de falar um pouco sobre mulheres. Começando pela minha mãe, que foi minha primeira referência feminina na vida. Minha mãe, que alugava filmes para assistirmos juntas. Minha mãe que me levou no cinema para assistir “Meu primeiro amor, parte II”. Minha mãe, que é a melhor cozinheira do mundo (sinto muito se você nunca comeu a comida que ela faz). Minha mãe que é a melhor mãe que já existiu, existe ou vai existir, porque ela é minha. Te amo, mãe.
Entre as personagens femininas que vejo em peças de teatro, gosto de destacar algumas. Ou por já ter interpretado ou por querer interpretar, têm sempre uns papeis que marcam. Algumas fazendo rir, outras chorar. Não sei se você já percebeu, mas eu sou fã de “Hamlet”, de William Shakespeare. Sempre que posso, falo do texto, cito o texto, releio e choro nas mesmas partes… Super texto lindo. Nessa peça, tenho um carinho em especial pela mãe do príncipe da Dinamarca. Gertrudes, a viúva noiva. A Rainha anuncia a morte de Ofélia: “Seus vestidos se abriram, sustentando-a por algum tempo, qual a uma sereia, enquanto ela cantava antigos trechos, sem revelar consciência da desgraça, como criatura ali nascida e feita para aquele elemento”. Lindo, Gertrudes… Lindo como você descreve o suicídio da jovem para o irmão.
Ainda em Shakespeare, tem a Lady. Sensual, magnânima, ambiciosa, apaixonada e capaz de tudo, tudo. Inclusive regicídio. Lady MacBeth é dotada de lindas sequências de palavras uma atrás da outra.”Falharmos? Prenda sua coragem ao máximo, e nós não falharemos”.
Vamos com um pulo gigantesco da Inglaterra do Bardo para a classe média carioca de Nelson Rodrigues em 1978. Em “A serpente”, as irmãs Lígia e Guida travam excelentes diálogos. Nelson enfileira lindas sequências de palavras uma atrás da outra quando as irmãs conversam. Um cinismo cômico:
GUIDA – Mas criatura, nós moramos no mesmo apartamento. Uma parede separa as tuas intimidades e as minhas.
LÍGIA – Por isso mesmo. Ouve-se no meu quarto tudo o que acontece no teu. Chega a ser indecente. Ouço os teus gemidos e os de Paulo. Mas você nunca ouviu os meus. Simplesmente porque no meu quarto não há isso. Esse mistério nunca te impressionou?
GUIDA – Mas Paulo, que também não é múmia, acha você felicíssima.
LÍGIA – Se parecíamos felizes, é porque somos dois cínicos.
GUIDA – Não acredito.
LÍGIA – Está me chamando de mentirosa?”
Em “Boa noite, Mãe”, a estadunidense Marsha Norman ganha o Pulitzer de Teatro em 1983 colocando mãe e filha para conversar. Começa o texto com Jessie, a filha, dizendo calmamente à sua mãe, Thelma, que pela manhã, ela estará morta, pois planeja se suicidar naquela mesma noite. Jessie chega ao final da peça com um monólogo incrível que nos faz sentir por ela:
MÃE – Como que eu posso deixar você partir?
JESSIE – Você pode porque você tem que. É o que você sempre fez.
MÃE – Você é minha filha!
JESSIE – Eu sou o que sobrou da sua filha.
Uma das mulheres que me tirou do sério em anos mais recentes foi a Monica Martelli com sua peça “Os homens são de marte… e é pra lá que eu vou!”. Sei que não fui a única a perder a linha com as aventuras da Fernanda, protagonista da peça. Afinal, o monólogo virou filme, serie de TV, teve continuação (“Minha vida em Marte”) além de ter sido premiado país a fora. E digo mais, assistiria a Fernanda explorando todos os planetas do sistema solar. Até Plutão!
Mulheres fortes, interessantes, apaixonadas, frias, destemidas, brutas, tristes, felizes, frustradas, sozinhas, delicadas, acompanhadas, cruéis, amorosas, independentes, restritas… Mulheres!
Um aceno de mão efusivo e até a próxima semana!
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