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E foi assim que fiquei sabendo quem era o Chico

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35 anos, bacharel em Artes Cênicas pela UNIRIO, licenciada em Letras pela Estácio de Sá, atriz, escritora, tradutora e ávida leitora nas horas vagas.
Tempo estimado de leitura: 2 minutos

“Sabe, no fundo eu sou um sentimental Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo…(além
da sífilis, é claro)*

Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar,
trucidar

Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora…”

Fado tropical
Chico Buarque – Ruy Guerra/1972-1973
Para a peça ‘Calabar’ de Chico Buarque e Ruy Guerra

Sou curiosa. Gosto de saber das coisas. Já reclamaram comigo, mais de uma vez, que faço perguntas demais. Aprendi com meu pai. Acho que é uma característica que pode chegar a pontos bem irritantes. Eu sei. Eu vejo no meu pai. Adoro quando essa peculiaridade me leva a algum assunto com desdobramento. Chico Buarque é um desses assuntos na minha vida.

Nasci em 1985, sendo assim, quando dei por mim comecei a pensar que todos os músicos de MPB que eu gostava estavam mortos. Fiquei aborrecida quando descobri que não conseguiria ir a um show do Vinicius de Moraes ou da Elis Regina. Não me pergunte por que, mas acabei colocando Caetano Veloso, Gilberto Gil e Milton Nascimento nessa. Chico Buarque eu sabia que estava vivo. Não sei dizer o motivo. Coisa de criança, talvez.

Eu era fascinada por “Os Saltimbancos Trapalhões”. Queria ser, podem espalhar essa ideia, e quero ser até hoje amiga da Lucinha Lins. Me encantava que aquele filme tinha sido baseado em uma peça. E aquelas musicas! Quem foi responsável? Peraí. Esse cara não é a mesma pessoa que escreveu o livro que estou lendo? “Chapeuzinho Amarelo”? Como assim? É isso?

Quer dizer que aquela musica que a Bibi Ferreira canta, que eu acho linda… é desse cara também? Outra peça? Ah… a peça tem o nome da musica. Bibi Ferreira era a personagem principal. Faz sentido. Entendi. Ele escreveu “Gota D’água” também. Não, não foi sozinho? Claro, né! Normal. Para fazer isso tudo tem que ser com alguém mesmo. “Beatriz” é tão linda e triste… que musica sensível… parece mesmo uma linda bailarina dançando… Chico Buarque, sei, sei… outra peça, né? Esse cara é bacana. Ele tá mexendo comigo. Ele têm três filhas? Só podia ser. Muita mulher em volta dele. Delicadeza, é isso.

Chico Buarque Foto: Leo Aversa/Divulgação

Perseguido pela censura, foi é? Pseudônimo. Chico Buarque não pode lançar musica com o próprio nome? Era assim que meu país era na época? Caetano Veloso, Gilberto Gil e Milton Nascimento estão vivos?! Chico Buarque é irmão da Miúcha? Uau! Fiquei tonta agora.

Conheci “Construção” lendo. Achei que era um dos poemas mais lindos que já tinha lido na vida. Era uma musica. Daquele Chico Buarque. Claro! Ele fazia peças e filmes, ele saberia fazer musicas com estórias! Só podia ser. Não fala assim que eu choro! Como que a pessoa encaixa “Geni e o Zepelim” no meio de uma peça! Ópera? É isso mesmo? Ele escreveu uma ópera também? Assim não dá!

Eu vi. Eu chorei. E sei que ela nem sabe que eu estava na primeira fileira. Só que quando Lucinha Lins apareceu no palco naquela montagem de “Ópera do Malandro”, por um momento, eu era aquela menina no chão da sala na casa dos meus avós assistindo ela cantar “Hollywood fica aqui tão perto…”.

Chico Buarque fez, e ainda faz, parte da minha educação cultural, histórica e política até hoje. Uma figura que ocupa uma grande parte do Rio de Janeiro. Um carioca da gema. Resiliente.

Um aperto de mão efusivo e até a próxima semana.
Dúvidas, críticas e sugestões, envie para luciana.kezen@rioencena.com.

* trecho original, vetado pela censura

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