Entretenimento para pessoas de pouca idade não chega a ser a coisa mais fácil de achar por aí. Entretenimento de qualidade, claro! Das mães e pais que conheço, poucos são os que estão lidando com a pandemia de uma maneira,
razoavelmente, bem saudável para si próprias e para as seus pequenos.
Eu, que já estava de olho nestas pessoas há tempo, me vejo agora admirando-as mais ainda. Porque, eu, que tenho 36 anos, estou surtando dentro de casa comigo mesmo… Como que eu faria se tivesse uma pequena comigo? Ou
duas? De idades diferentes? Como explicar por tanto tempo a alguém que ainda está experimento a vida com anos marcados em um dígito, que isso tudo vai passar? Que um dia, não se sabe quando ainda, vamos poder voltar, livremente, a frequentar museus, exposições, entrar e sair de teatros e cinemas?
Mais uma vez me surpreendi com um projeto realizado nesta pandemia. Gosto de ser surpreendida! Nos últimos anos, venho escutando, repetidamente, o nome da dramaturga Renata Mizrahi, nas mais diversas conversas. Extremamente prolífica em sua escrita teatral, não só para adultos como também para crianças, Renata é um nome que não para de aparecer em todos os ciclos teatrais.
Eu, que cresci escutando uma diversidade de estórias gravadas, logo me atraí por esse projeto, “Escuta que lá vem peça”, um podcast infantil que estreou em março e adapta sucessos do teatro para o inovador formato de áudio- drama. E claro, que Juliana Trimer, produtora dessa empreitada, começa a primeira temporada com a adaptação de uma premiada peça da Renata Mizrahi. Não tem erro!
A peça “Joaquim e As Estrelas” – vencedora do Prêmio Zilka Salaberry, em 2012, na categoria melhor texto – conta a história de um menino apaixonado pelas estrelas e que conversa com elas diariamente. Tão apaixonado, que seu sonho é ser astronauta, só para ficar pertinho delas e poder abraçá-las. De repente, as estrelas param de brilhar. O motivo? As pessoas não olham mais para o céu. Isso entristece profundamente Joaquim, que, com a ajuda dos amigos, da sua professora e até da vizinhança, decide armar um plano para que as estrelas recuperem a luz.
Num universo infantil repleto de telas e games, os episódios de “Escuta que Lá Vem a Peça” querem despertar o imaginário e a sensibilidade deste público, contando ainda com recursos de acessibilidade, como a transcrição dos áudios. Há ainda ilustrações originais e letras e cifras das músicas disponíveis no portal: www.escutaquelavemapeca.com.
Adoro a ideia de uma peça infantil ter sido dividida em 3 episódios. Achei uma excelente “sacação”. Acho que é sempre uma boa oportunidade para conversar com os pequenos, saber como eles estão entendendo a estória, saber se eles estão gostando… Ao meu ver, contribui para formar um pensamento crítico na pessoa.
Com um elenco de peso formado pelas vozes de Carol Futuro, Daniela Fontan, Diego de Abreu, Gabriel Hipollyto (que interpreta o protagonista Joaquim), Juliana Trimer (além de produtora e idealizadora do projeto, Juliana também atua), Renata Tavares e Sergio Kauffmann, escutar uma peça de teatro me atiça a imaginação.
Sei que o texto ganhou algumas adaptações para a nova linguagem, com sons e diálogos mais adequados, e ainda seis músicas, que não existiam na versão original, compostas por Marcelo Bruno, para ambientar ainda mais a história em áudios. A direção artística é de Diego de Abreu e a edição e desenho de som de Marcos Bassini, que fazem um excelente trabalho.
Como não assisti à montagem desta peça ao vivo, presencialmente, só posso dizer que foi uma delícia de escutar
essa versão de “Joaquim e As Estrelas” nesta primeira temporada de “Escuta que lá vem peça.
Um aceno de mão efusivo e até a próxima semana.
Dúvidas, críticas ou sugestões, envie para luciana.kezen@rioencena.com.