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‘Luiza Mahin… Eu ainda continuo aqui” tem direção acertada e uma trilha sonora cantada com dor e verdade

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35 anos, bacharel em Artes Cênicas pela UNIRIO, licenciada em Letras pela Estácio de Sá, atriz, escritora, tradutora e ávida leitora nas horas vagas.
Tempo estimado de leitura: 3 minutos

Estamos em meados de maio de 2021 e continuamos lidando com altos números de mortes causadas pela Covid-19, com a falta de vacina por todo país. E ainda temos que aguentar esse circo que está sendo a CPI da Covid. É… não está fácil mesmo!

Não acho consolo em lugar algum. Mesmo assim, sigo adiante. Sigo porque sei que ficar estagnada não é a melhor opção. E quando assisto a um espetáculo de teatro, procuro sempre me alegrar com o que está na minha frente. Ainda estamos produzindo arte. Mesmo com tanta gente contra, ainda resistimos. Acho isso de um poder e garra inigualáveis.

Acho sempre engraçado notar as pessoas que entram nas apresentações online ao vivo com a câmera aberta. Na maioria dos casos, assim que elas notam que estão com suas câmeras abertas, elas se espantam e desligam o vídeo no
computador ou celular. São as novas questões que lidamos em pleno século XXI.

Em contraponto às modernidades do século XXI, como se ao mesmo tempo ainda estivéssemos séculos atrás em algumas áreas humanitárias, além de lidar com toda falta de estrutura na área da saúde, as vidas das comunidades também lidam com chacinas. E isso não é de hoje.

“Luiza Mahin… Eu ainda continuo aqui”, de Márcia Santos, é um espetáculo teatral que leva ao palco personagens de mulheres negras reais, que vêm perdendo seus filhos para a necropolítica e para o feminicídio. Com uma trilha sonora original, de Jorge Maya e Regina Café, tendo a própria Regina realizando percussão ao vivo em cena, a cada batida que ouvia, me tocava a alma, meu coração estava no ritmo da revolta dessas mulheres retratadas em cena.

Com apresentações hoje e no próximo domingo às 17h, tanto online quanto presencial, destaco um certo desconforto com o atraso do espetáculo. Apesar de estar esperando a peça começar dentro de casa, tive que esperar as pessoas
terminarem de se acomodar dentro do teatro (as transmissões online e presencial são simultâneas).

De forma geral, não gosto quando um espetáculo atrasa. Não chego atrasada em lugar algum, nem peço para entrar em uma peça que já começou. Não acho legal. Se estou no palco, na cabine, no bastidor e o espetáculo que estou fazendo atrasa, começo instantaneamente a não me sentir bem fisicamente. Por que estamos atrasados? É horrível. Se estou na plateia, e o espetáculo atrasa, acho um saco.

O espetáculo fala da dor de mães que perdem seus filhos para a violência Foto: Divulgação

Tive um professor de faculdade maravilhoso, Renato Icarahy, que costumava dizer que o relógio da plateia começa quando se senta na cadeira e espera-se que o espetáculo comece. Cada momento passado, menos paciência a plateia tem para o espetáculo que vai assistir.

Dito isso, tenho que dizer que me chamou a atenção, como plateia online, a escolha da direção de Edio Nunes, que optou por transmitir o espetáculo com três câmeras. Excelente escolha. Com uma câmera de frente, uma pela esquerda e uma pela direita, consegui me sentir mais integrada com tudo que acontecia no palco.

No palco, junto com Regina Café abalando meu coração na percussão, Cyda Moreno, Marcia Santos, Jonathan Fontella, Taís Alves e Marcia do Valle dão vida a essas persongens que procuram respeito e reconhecimento justo. “E enquanto eu ainda estiver viva e tiver força, eu vou continuar a gritar. O estado não tem que matar ninguém”.

Além das músicas viscerais cantadas com dor e verdade, os figurinos escuros que Wanderley Gomes coloca nessas mulheres nos fazem lembrar que elas estão de luto. Luto por suas famílias dilaceradas. Luto pela falta de respeito que recebem. Luto por seus gritos não escutados. Márcia Santos escreve um texto com uma poesia doída e sofrida de séculos de inadimplência e injustiça social.

Um aceno de mão efusivo e até a próxima semana.
Dúvidas, críticas ou sugestões, envie para luciana.kezen@rioencena.com.

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