Em sua autobiografia “Minha vida no teatro”, Domingos de Oliveira escreve: “O teatro está em crise há quatro mil anos. Ele parece imperecível, e o motivo é bem claro. Das formas dramáticas, o teatro é a única realmente comunal. O livro é uma experiência individual. A televisão também (mais solitária ainda, posto que assistida em à balburdia dos comerciais). O cinema é maior, posto que é assistido em comunidade, todos participando da mesma vivência, imersos no escuro, iluminados pela tela. Mas o cinema não dialoga. O teatro dialoga. É gente falando com a gente
(mesmo quando os espectadores não dizem palavras, eles falam!). O livro, a TV, o cinema são ideias – o teatro é real.”
Concordo com ele. Sempre gostei do Domingos de Oliveira, mas esse parágrafo… Esse parágrafo é para ser guardado. Fiquei fã dele cedo. “Confissões de Adolescentes” me pegou na idade certa e eu assistia com meu pai (que faz aniversário hoje, feliz aniversário, papai).
Quando as pessoas começam a falar que o teatro acabou, que não tem como mais fazer teatro no Brasil, que a pandemia destruiu o que já era fraco… Eu discordo! Sou do time do falecido Domingos. Eu acredito que o teatro tem uma característica diferente das outras formas de arte.
Sou uma pessoa que se pode evitar falar com conhecidos na rua, eu evito. Não por conta dos conhecidos. Eu só não sou muito fã de ficar na rua. Estou sentindo uma falta danada de ir ao teatro. Não exatamente de falar com as pessoas ao meu redor. Estou sentindo uma falta de ter atores falando comigo, dessa maneira única que o Domingos escreve.
Não acho que o teatro está morrendo. Muito pelo contrário. Acho que o teatro está passando por mudanças. Algumas dessas mudanças estão sendo maravilhosas! Outras nem tanto. Claro, não vamos acertar sempre. Em agosto de
2020, os escritores, diretores, atores, produtores em geral estão a procura de novas maneiras de se expressar. Como esquecer que o teatro começou em praça publica?
Ao se destacar do coro, Téspis de Ática subiu em sua carroça e falou, não como si próprio mas, como outro. Desde então, estamos em crise. Isso não quer dizer que vamos deixar de existir.
Segundo Milton Nascimento, “Todo artista tem de ir aonde o povo está / Se foi assim, assim será”. Nesta afirmação do verso “se foi assim, assim será,” eu me arrepio. Sabemos que escritores não vão parar de escrever. Sabemos que eles vão mostrar a seus amigos diretores e atores. E que o teatro simplesmente não vai parar de forma alguma.
Se você estiver prestando atenção, tem uma quantidade absurda de espetáculos à nossa disposição online. Mostras estão acontecendo de forma que possamos assistir peças do conforto do nosso próprio sofá. Novos textos estão sendo produzidos em novos formatos que se adaptam melhor ao momento em que vivermos.
Estamos recorrendo à arte mais do nunca durante esta pandemia. Não se deve taxar livros. Não se pode pôr taxa na cultura, no conhecimento, no aprendizado de um cidadão. Como Mario Bortolotto diz: “TEATRO É FODA!”.
Espero que vocês estejam se cuidando. Por favor, usem máscara ao saírem nas ruas. Evitem aglomerações.
Um aceno de mão efusivo e até a próxima semana.
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